Me. Vanderléia Batista Biss, psicóloga e professora.
Alice vivenciou abuso sexual com 10 anos de idade, perpetrado pelo padrasto. Contou a situação para sua mãe, que não acreditou nela, nem procedeu a medidas para proteção de Alice. Para fugir do abuso sexual, com 12 anos, Alice constituiu um relacionamento com um homem mais velho, indo morar com ele. Com 28 anos, quando chegou à terapia, Alice apresentava sintomas de isolamento social, não conseguia confiar, nem se relacionar com as pessoas. Além disso, apresentava baixa autoestima, se sentindo sem valor e culpada pela situação de abuso, o que a impedia de seguir seus sonhos, como voltar a estudar e ser Professora. A vivência de abuso sexual na infância e a ausência de proteção da genitora eram como nozinhos na história de vida de Alice, os quais a impossibilitavam de seguir em frente e construir relacionamentos interpessoais.
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A Terapia do Esquema permitiu trabalhar o abuso sexual em nível cognitivo e vivencial. O terapeuta auxiliou Alice a reviver as memórias traumáticas, possibilitando a paciente conter as emoções associadas ao trauma dentro do contexto da relação terapêutica, na qual Alice não estava sozinha. É a segurança do vínculo terapeuta-paciente que permite ao indivíduo suportar reviver situações tão dolorosas. Esse vínculo se contrapôs ao sentido que Alice atribuía ao abuso: ela não tinha valor, era culpada pelo abuso, não podia confiar nas pessoas e estava sozinha. O vínculo terapêutico possibilitou que Alice se sentisse valorizada, acolhida e conectada a outros seres humanos, apesar de sua experiência passada.
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No processo terapêutico, Alice pode desatar os nozinhos de sua história, descobrindo um novo mundo, no qual ela pode confiar e ser quem é, sem culpas. Alice fez amigos, melhorou seu relacionamento familiar, voltou a estudar e hoje está cursando o ensino superior. O relato sobre Alice ilustra a importância da Terapia do Esquema para lidar com situações traumáticas da infância, as quais podem deixar marcas na vida adulta. A Terapia do Esquema não possibilita apagar essas lembranças, o que seria impossível, mas permite que as situações traumáticas não sejam algo limitante na vida do indivíduo, não causando mais sofrimento intenso e o paralisando.