Texto escrito por Gerson Rossi, psicólogo na Wainer Psicologia.
A lógica da frase acima parece óbvia, afinal, quem desiste, desiste de algo. Porém quando aplicamos isso em nossas vidas, a sensação que temos é bastante contrária; queremos largar tudo pois acreditamos que não possuímos nada. Então, como assim desistir de algo que nem possuo? Bom, quem disse que a mente humana é puramente lógica ou totalmente ilógica?
O que acontece por vezes é um uso distorcido da lógica em nossa mente segundo a forma de enxergar o mundo. Dentro de nós existe muito mais do que órgãos e sistemas biológicos, existem estruturas e crenças que são formadas segundo nossa interação com o meio, com as pessoas e o nosso temperamento desde a infância, com isso criamos certos padrões de funcionamento e modos de agir frente a novas situações. Essas estruturas vêm sempre com o intuito de nos tornar mais adaptáveis a realidade, no entanto essa mesma realidade a qual se pretende nos preparar pode também estar distorcida e nos tornar mais sensíveis a situações desagradáveis, o que acaba trazendo sofrimento em ocasiões comuns.
Por exemplo: se eu estiver andando sozinho à noite, é lógico que venha a minha consciência uma condição de vulnerabilidade para que eu possa me proteger de riscos, entretanto, quando essa estrutura começar a ser ativada de forma constante, posso acabar me sentindo em perigo em situações em que ele não existe de fato. Assim como situações de falar em público e preocupações do dia-a-dia, medos comuns passam a parecer muito maiores do que são, então de uma maneira automática passamos a funcionar tendo um foco nas ameaças, deixando de ver a nossa capacidade de lidar com as mesmas situações.
Assim acontece ao longo da nossa vida, filtramos das mais diversas situações fatos e pensamentos que vão de encontro ao nosso funcionamento, porém quando analisados de perto e por uma outra lógica, já não parecem fazer tanto sentido, como “querer desistir de algo se não possuo nada”. Pensar em abandonar tudo o que tem é não fazer uma reflexão sobre o que realmente possui; devemos olhar os recursos a volta e quebrar padrões para que assim se possa mudar o ponto de vista e tornar a nossa visão mais condizente com a realidade.
Quando se encontrar em situações que parecem becos sem saídas, lembre-se que até a entrada deles pode ser a saída. Questione a sensação de derrota eminente impregnada nos pensamentos, pergunte a si mesmo o que diria a um colega se o visse nessa mesma situação, pois só perde quem tem algo a perder e só ganha quem entra na disputa.